sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Glamour do Restaurante


quem diz isso é a amiga de uma amiga. gosto do glamour do restaurante. não consigo agora pensar numa coisa mais cafona do que essa. glamour eu gostava de escrever quando trabalhava no programa do Leão Lobo, cabia bem. eram manchetes desse tipo. Todo o glamour de Juliana Paes. A felicidade de Deborah Secco. Gianecchini brilha em desfile. e todas essas notícias que só interessam a, você sabe.

então depois de uma caminhada incrível de Caraíva à praia do Espelho, chegamos no tão falado restaurante de baiano. aquela ideia descansar de frente pro mar em espreguiçadeiras de madeira, esteiras de palha e almofadas de chita adicionada a uma boa comida. e o melhor estava vazio, devia ter apenas uns três grupos de pessoas. quatro com o nosso. um lugar bastante comentado onde você vê pessoas tomando taças de champanhe. nada contra, também tomo as minhas.

fui abrir uma conta e demorou um pouco, porque o Baiano em pessoa explicava a uma cliente que não, não coloca na mesa três ou quatro pratos se o cliente pedir um prato do cardápio escrito "para dois". a garota se excedia com razão, porque vem muita comida (não é restaurante francês, né) e teria de jogar fora depois. ele defendia ser uma norma. "aqui fazemos assim". ele queria dinheiro e não amizade.

pegamos o cardápio. cento e quarenta reais um o peixe assado com farofa de banana para duas pessoas. o mesmo prato que no dia anterior eu tinha me empanturrado por cinquenta e cinco. com três pratos. na nossa vez de abrir a conta, vetaram.estamos atendendo no limite, se abrirmos pra vocês nosso atendimento não será tão bom. pensei em por que eles colocam tantas mesas e esteiras por lá, se o lugar vai ficar sempre vazio. pensei também em ter cara de quem não consegue pagar uma conta no glamuroso restaurante do baiano, mas deixei pra lá, porque não ia conseguir mesmo. tava com pouco dinheiro e ainda tínhamos de guardar pra voltar pra Caraíva de táxi, porque a Jordana e a Íris enjoam quando sobrem no barco.

resgatamos as cangas infectadas pelo glamour elitista daquele estabelecimento e nos sentamos no bar ao lado. metade do preço, a mesma vista pro mar, as mesmas espreguiçadeiras, stella artois. pedimos peixe assado com farofa de banana. quatro pratos, por favor. Comemos muito bem e ainda sobrou um pouquinho.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Macho alfa ou estuprador?


- socorro!

eu e a Clara voltávamos do forró, em que passamos uma hora. uma hora sentadas, tomando a nossa cerveja e conversando, abordadas apenas uma vez por um homem chato. queria se sentar entre nós duas.
era madrugada, umas duas da manhã, estávamos perdidas, mas tudo bem, porque em Caraíva tudo é perto, a qualquer momento, acharíamos o caminho.

a voz que gritou era feminina e vinha da esquina, para onde estávamos indo. olhei pra Clara e vi a mesma cara assustada de quando percebemos um barulho de grilo dentro do carro, voltando pra casa. podia ser assalto, estupro, incêndio, brincadeira, armadilha, fantasma, gravação. decidimos correr no sentido oposto. um rapaz interrompeu nossa fuga. apareceu na sacada de uma casa, perguntando o que havia acontecido. ele poderia ser um assaltante, estuprador, cúmplice, psicopata, fantasma ou só um cara preocupado. disse que desceria para ver o que estava acontecendo, pois uns minutos antes, uma menina tinha passado brigando com um cara que a perseguia, pareciam namorados apenas discutindo: se você continuar me segurando, eu grito! ele foi em direção à voz. eu e clara, tomadas por uma injeção de coragem, seguimos. eu pensava o tempo todo que podia morrer, a pessoa que provocou o "socorro!" podia ter uma arma, uma peixeira ou ser bom de caratê. depois a clara me disse que pensou o mesmo. mas o super-homem da sacada não parecida contaminado pela desgraça.

a voz não voltou. bom mesmo, senão eu ia. sei lá, morrer, provavelmente.

chegamos à conclusão que era uma briga de casal turbulento e contamos que estávamos perdidas. ele nos explicou o caminho da nossa pousada e se ofereceu para acompanhar até a esquina. ele podia ter um clorofórmio, um boa noite cinderela ou ser um bom estrangulador e aí eu teria contado essa história  para alguém que psicografasse ou durante uma brincadeira do copo. bu!

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

barraco por barraca


- vou tirar esta tenda, porque vocês não estão consumindo na minha barraca!

pense em ouvir essa frase debaixo de um sol das duas da tarde. eu quase virei um cavalo pra dar coice naquele homem. tínhamos sofrido para conseguir sombra pra todo mundo (estamos em seis) e no auge do sossego a brincadeira ameaça acabar.

eu não tinha entendido direito, mas parece que estávamos usando a tenda de uma barraca e consumindo em outra. mas eu não sabia. e o baiano continuava a falar alterado, alto. andava de um lado pro outro e não olhava nos nossos olhos .não queria ouvir. para ele, éramos os pilantras. pra nós, ele era um filho da puta, sem dó de branquelinhas como eu e a Clara. o Rafa se impôs, o Rafa é bem grande e se eu fosse qualquer homem, não tirava ele nem de zoeira, nem com um "Rá!" no final. Rafa disse, quando o baiano começou a desfazer os nós da tenda pra que o sol castigasse nossa pele com porradas ultravioleta, "você não vai tirar a tenda, brother (Rafa é carioca), a gente consome de você! o que você tem? tem água de coco? traz dez!"

- não tem coco!

o baiano queria briga. não tem coco na Bahia? Rá! e continuava a desviar os olhos, mas as pessoas ao redor, não. Eu posso dizer que foi o barraco da praia e, intimamente, gosto de ter feito parte disso, porque tínhamos razão. pelo menos eu acho. "Então o que é que tem?", o Rafa enfrentou.

- tem vodca! tem buscavida!

o malandro quis recuperar o dinheiro perdido, enfiou as coisas mais caras. Jordana intercedeu, "suspende as dez águas, a gente troca a tenda". maior trabalho trocar a tenda e tal, porque alguns ficariam no sol, mas o Elvis da barraca em que consumíamos deu um jeitinho, desfazia um nó da tenda do outro e já grudava o seu pedaço na madeira, para o sol não nos encher muito. Jordana arrematou, fina, "o senhor viu? se tivesse mais educação, poderia ter ganhado mais dinheiro". o baiano alterado tentou retrucar:

- educação... veja bem, educação...

mas não conseguia montar a frase.

- educação é quando... vou te falar sobre educação...

talvez estivesse com a cabeça fervendo de tanto nervoso. talvez fosse incapaz mesmo de construir frases. foi embora com a tendinha debaixo do braço. até agora não deve nem saber como somos. incapaz também de olhar.

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

As Rasteirinhas Podem Esperar


enfiei os pés já pretos no quarto da pousada. as unhas pintadas de lilás, a sola e o peito dos pés estavam encardidos.

chegar em Caraíva é literalmente a piada que fazemos quando alguém mora longe: pegue um ônibus, depois o trem, uma jangada, aí ande mais um pouco. no caso de Caraíva, você desce em Porto Seguro, pega um taxi de uma hora, uma hora e meia, um barquinho para atravessar o rio e, como a pousada quer reservamos fica perto da praia, foi necessária uma charrete puxada por um burrinho cansado, que nos obrigou a descer e caminhar pela areia mesmo. uma prévia do que seria andar por aqui. areia mais cocô de burrinhos: pés bronzeados de sujeira. percebi que assim seria a viagem toda.

adeus às quatro rasteirinhas novas, que comprei na C&A bem baratinhas e bem fofinhas. não me atrevo a assassiná-las prematuramente por aqui. vão esperar a volta para são paulo. o chinelo Havaianas assumiu em período integral.

segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

baianinho ansioso


o garotinho se apresentou assim que nossa vontade de sombra encostou os olhos na barraca do bar dele. sou o paranajuá, pode me chamar de pará. o moleque parecia ter uns sete anos de tão enxutinho - mais tarde descobri que tinha dez - e já tinha um apelido de homem feito, dono de negócio, da barraca do pará. foi lá, protegida por uma canga rosa agarrada a quatro pedaços de madeira mergulhados na areia, que esperei o sol baixar. eu e o pedro juán gutierrez que estou lendo. nós não reclamamos do sol forte, porque além da sombra havia vento. o vento não deixa você pensar que está num deserto e desejar que a próxima viagem de ano novo seja para a europa ou nova iorque, dentro de algum iglu compondo um cenário com tons de branco impensáveis para um brasileiro.

eu e pedro juán éramos constantemente interrompidos pelo Pará, além do garotinho da barraca vizinha - Gilvan, bem menor que o Pará, ele sim tinha sete. barraca do Gilvan. não soa tão comercial quanto a do outro. querem água de coco? natural? com gás? vai uma salada de frutas? alguém quer uma massa? massa na praia nunca comi, a ideia de grãos de areia atacando o meu espaguete me incomoda, mas se for boa como a que a minha avó faz, por que não?

denise foi mergulhar, Pará logo apareceu para saber quem pagaria a conta dela. calma, ela só foi tomar banho de mar - eu quis tranquilizá-lo - fazer uma fisioterapia na água, porque ainda se recupera de um joelho quebrado. nem sinal de adultos servindo - parece que ficavam apenas dentro preparando a salada de frutas e as caipirinhas - nada que me fizesse acreditar que aquelas crianças batalhadoras fossem apenas os filhos do dono, dando uma turbinada na renda familiar no verão. eram a cara do negócio da família. o atendimento estava na mão deles, a simpatia, a rapidez, a memória para se lembrar dos pedidos. eu daria nota nove, sem estrelinha, porque essa insistência em perguntar a todo momento se queríamos alguma coisa, para que o Gilvan não ganhasse a venda, me irritou um pouco, mas também entendo que se não for assim, o caixa do Pará ficaria fraco no final do dia.

a mãe só apareceu na hora da cobrança, de longe, como se estivesse dando apenas uma consultoria ao filho. observava com a cara enrugada, de quem toma muito calote. a conta estava honesta e baixinha, do jeito que eu gosto. não quero torrar o décimo terceiro aqui. em 2013 tentarei ser mais controlada. estou ansiosa para ver minha poupança engordar, assim como o Pará e o Gilvan, a deles.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

um almoço baiano massa

sentamos pra comer. almoçar às sete da noite. o restaurante da Cida era o lugar mais próximo. foi um cara local que sugeriu. eu e a clara estávamos indo pra direção errada. a cidade era pra direita e a gente seguia pra esquerda. talvez voltando pra são paulo à pé. na cida, preferimos sentar nas mesinhas de fora, perto de dois gringos e junto com as formigas estranhas de bunda empinada, que eu expulsava raspando o cardápio na mesa, porque eu tava com medo de me morderem, já estou roxa demais para picadas. sol forte já me incomoda, coceira de picada também. estou na bahia, só consigo desviar das formigas. o sol eu driblo com meu protetor 50. pedimos um estrogonofe de camarão e deu inveja quando o prato dos gringos chegou. era um PF de arroz, feijão, salada, fritas e frango, acho. ou peixe. o nosso, ao contrário do que dizem do serviço baiano, chegou rápido, em seguida. o cheiro do leite de coco.nunca vi isso num estrogonofe. e tava bom, apesar da batata palha, que não vou muito com a cara. os gringos eu só ouvia, eu estava de costas. eu e clara pensamos em pedir uma cerveja, apesar da minha tentativa de não beber. ainda bem que só tinha Nova Schin e desistimos. Raspei o prato, costume que me veio de herança do meu avô que lutou na Segunda Guerra, não permitia que deixássemos restos no prato. os gringos, pelo jeito, também. Ouvi os dois treinando: cool, massam, massã, meissa, cul.o garçom chegou com a conta deles e uma pergunta "Gostaram?", eles conseguiram dizer "Massa" direitinho. Eu fiquei com um pouco de vergonha deles, porque massa, de onde venho, não é muito massa, nem cool. é meio bobo, parece gíria velha, que só gente desatualizada fala, mora?mas no dia seguinte, no café da manhã, a Iris explicou que aqui na Bahia se fala muito assim, e aí eu tive vergonha de mim e da minha cultura limitada. mas fazer o quê? é a minha estreia na bahia. como eu ia saber?eu e a Clara, na nossa vez, dissemos que estava uma delícia e prometemos voltar, mesmo que durante a refeição tivéssemos combinado que não, não voltaríamos porque queríamos conhecer temperos diferentes.saí feliz, pisando na areia que deixa as unhas escuras, por causa do "matéria orgânica", vulgo merda de burro. De pancinha cheia, dormi umas treze horas. Merecidas.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

das confraternizações



gosto de encher a cara de amigos. beber até a última gota das companhias que escolhi. deixar o filtro em casa e esperar que as palavras solucem de noite. assuntos que coram os sóbrios, as freiras, as virgens, os reprimidos. gosto de presentes com shots de criatividade. ganhei uma Barbie, a segunda de toda a minha vida, loira como eu, de vestido e com um laço. ganhei uma pulseira romântica, porque amigos não esperam que você seja nada além do que você é. gosto de saber que não preciso dos presentes. só deles.


dessa vez, não falamos sobre o edifício em que moraremos juntos, na ressaca da juventude. a verdade é que eu espero sempre que possamos repetir, aos setenta, oitenta, noventa, cem, essa embriaguez coletiva que nos ataca quando nos encontramos.

nós sorrimos. e chegam a pensar que somos apenas dentes arreganhados. mas sabemos que quando a porta da sala bate e ficamos a sós, as paredes talvez discordem. o nosso coração discorda. o lenço de papel, os diários, o celular, o chuveiro sabe a profundidade de cada um.

somos muitos. mas juntos, alegres essencialmente.