quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

barraco por barraca


- vou tirar esta tenda, porque vocês não estão consumindo na minha barraca!

pense em ouvir essa frase debaixo de um sol das duas da tarde. eu quase virei um cavalo pra dar coice naquele homem. tínhamos sofrido para conseguir sombra pra todo mundo (estamos em seis) e no auge do sossego a brincadeira ameaça acabar.

eu não tinha entendido direito, mas parece que estávamos usando a tenda de uma barraca e consumindo em outra. mas eu não sabia. e o baiano continuava a falar alterado, alto. andava de um lado pro outro e não olhava nos nossos olhos .não queria ouvir. para ele, éramos os pilantras. pra nós, ele era um filho da puta, sem dó de branquelinhas como eu e a Clara. o Rafa se impôs, o Rafa é bem grande e se eu fosse qualquer homem, não tirava ele nem de zoeira, nem com um "Rá!" no final. Rafa disse, quando o baiano começou a desfazer os nós da tenda pra que o sol castigasse nossa pele com porradas ultravioleta, "você não vai tirar a tenda, brother (Rafa é carioca), a gente consome de você! o que você tem? tem água de coco? traz dez!"

- não tem coco!

o baiano queria briga. não tem coco na Bahia? Rá! e continuava a desviar os olhos, mas as pessoas ao redor, não. Eu posso dizer que foi o barraco da praia e, intimamente, gosto de ter feito parte disso, porque tínhamos razão. pelo menos eu acho. "Então o que é que tem?", o Rafa enfrentou.

- tem vodca! tem buscavida!

o malandro quis recuperar o dinheiro perdido, enfiou as coisas mais caras. Jordana intercedeu, "suspende as dez águas, a gente troca a tenda". maior trabalho trocar a tenda e tal, porque alguns ficariam no sol, mas o Elvis da barraca em que consumíamos deu um jeitinho, desfazia um nó da tenda do outro e já grudava o seu pedaço na madeira, para o sol não nos encher muito. Jordana arrematou, fina, "o senhor viu? se tivesse mais educação, poderia ter ganhado mais dinheiro". o baiano alterado tentou retrucar:

- educação... veja bem, educação...

mas não conseguia montar a frase.

- educação é quando... vou te falar sobre educação...

talvez estivesse com a cabeça fervendo de tanto nervoso. talvez fosse incapaz mesmo de construir frases. foi embora com a tendinha debaixo do braço. até agora não deve nem saber como somos. incapaz também de olhar.

3 comentários:

  1. Nossa, que deselegante o homem. Eu também desejaria virar cavalo pra dar coice nele mas, como não fui eu que estava lá no meio do barraco, confesso que dei umas risadas lendo aqui.

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  2. Eu ia lendo tranquilamente quando vi o "eu quase virei um cavalo para dar coice naquele homem." eu só dei uma lida rápida de olho e sai de fininho , com medo de sobrar pra mim também já que não tenho nada a ver com a história e estava ali lendo só de curioso.

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